Jornalista desde 1957, o Prof. Chaparro é doutor em ciências da Comunicação, professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, Brasil. Conquistou quatro Prêmios Esso de Jornalismo. Consultor da Voice Comunicação Institucional, actualmente, dedica-se também ao seu blog O Xis da Questão. Lançou recentemente um interessante livro sobre Jornalismo Comparado.
Manuel Carlos Chaparro tem a particularidade de ser natural de Abrantes, Tramagal, e de ser Jornalista residente do Jornal regional “O Ribatejo”.
Manuel Carlos Chaparro tem a particularidade de ser natural de Abrantes, Tramagal, e de ser Jornalista residente do Jornal regional “O Ribatejo”.
Achei interessante desafiar o Prof. Chaparro para uma conversa sobre jornalismo de causas. Pese embora a sobrecarga de agenda que mantém no Brasil, o professor acedeu a dispensar-me alguns minutos da sua dispobilidade para responder a algumas questões que agora aqui partilho com todos os visitantes do Blog.
Obrigada ao Prof. Chapparro!
Obrigada ao Prof. Chapparro!
"Notícias que Nunca te Direi": Num mundo cada vez mais globalizado, faz sentido falar de um jornalismo de causas?
Carlos Chaparro: É inadequado denominar-se “Jornalismo de Causas” uma prática discursiva em que se usam as artes e as técnicas do Jornalismo para fazer algo que está mais próximo da propaganda que do Jornalismo – e entenda-se por Propaganda uma linguagem cujo fim específico é a difusão de idéias ou doutrinas (portanto, causas) para ações de convencimento à adesão. Esse meu entendimento da questão em nada reduz o mérito social e/ou cultural das causas. Mas Jornalismo é outra coisa, porque dele se exige a virtude essencial da veracidade e da independência, para que possam aflorar as ações, as falas e os embates dos protagonistas da atualidade, que não são os jornalistas. Nessa perspectiva, quem deve propor, defender e debater causas são os sujeitos sociais produtores dos fatos e das falas noticiáveis, cabendo ao jornalismo o papel que lhe é próprio: ser linguagem socializadora veraz, eficaz para o relato e o comentário do que de relevante acontece, e espaço publico confiável, para que nele se realizem com sucesso os conflitos que interessam à sociedade.
"Notícias que Nunca te Direi": A concentração de meios de comunicação por grupos empresariais contribui para a falta de sensibilidade nas matérias escolhidas pelos editores, no que ao jornalismo de causas diz respeito?
Carlos Chaparro: Como faceta do capitalismo movido a lucro, a concentração empresarial dos meios de comunicação pode oferecer riscos aos processos da democracia e da cultura, mas em nada ameaça a agenda de causas, que deve pertencer, não às redações, mas a grupos sociais organizados produtores de acontecimentos e geradores de conteúdos noticiáveis. Algumas Ongs vinculadas a causas (meio ambiente, inclusão social, combate à fome, por exemplo), fazem um trabalho notável de geração de conteúdos que interessam ao relato e ao comentário jornalísticos. Quando socializados e debatidos pelo Jornalismo, esses conteúdos têm um potencial transformador incomparavelmente superior ao que alcançariam se fossem uma ação de jornalistas.
"Notícias que Nunca te Direi" : O jornalismo de proximidade ofuscou o jornalismo de causas? Ou complementam-se? Ou considera que têm objetivos idênticos?
Carlos Chaparro: No meu conceito, não existe “jornalismo de proximidade” nem “jornalismo de causas”. Proximidade e causas são componentes inevitáveis e importantes do Jornalismo, em sua totalidade. A proximidade é um atributo essencial de noticiabilidade de qualquer facto ou fala relevante da atualidade – proximidade não apenas física, mensurável, mas principalmente proximidade abstrata em relação ao universo de interesses dos pessoas e dos grupos sociais; e causa está no cerne das razões de ser das ações humanas noticiadas e/ou noticiáveis.
"Notícias que Nunca te Direi": Fazer jornalismo de causas é seguir no “fio da navalha” da deontologia?
Carlos Chaparro: Na minha opinião, a questão nada tem a ver com deontologia, que vem a ser o tratado dos comportamentos profissionais. Não se pode colocar essa temática em molduras do BEM e do MAL, pois falamos apenas de conceitos. O bem e o mal estão em outro universo, o universo da Ética e da Moral, portanto, no universo do agir humano e das suas razões de ser, tendo em vista os valores e os ideários estabelecidos pelas sociedades, em suas marchas civilizacionais.
"Notícias que Nunca te Direi": O Brasil tem boas práticas de jornalismo de causas? E em Portugal? É possível fazer uma comparação?
Carlos Chaparro: O Brasil tem uma sociedade extraordinariamente dinâmica, recheada de instituições e práticas de democracia participativa, numa lógica de lutas por causas. Faz parte das competências dessas instituições a capacidade de produzir e socializar, pelas vias jornalísticas, o discurso de causas embutido nos acontecimentos noticiáveis que promovem. Acredito que a vida democrática portuguesa esteja também marcada por cenários e experiências semelhantes.
O entrevistador passou a entrevista a defender o chamado jornalismo de causas que existe e eh uma realidade cada vez maior. O entrevistado, apegado a velhas conviccoes, normalmante inimigas da verdade factual e atual, passou a entrevista a negar o facto. Em que ficamos?
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